Ficções


© André Kertész



   Na cidade havia os portos. Havia o restaurante
                          que estampava
as caravelas na janela, - havia como a luz, 
    e os gangsters  poliam com inquietação 

os punhos de seda. Eram sempre frágeis dramas,

os medos serviam-se em fraca dimensão: 
               - Evacuem as mulheres
   e as crianças com titanics bordados na lapela, e que tem 
   esfinge do galo de Barcelos.   Havia o mito e a rapaziada

de mãos dadas, havia o chulo, 
                 o chapéu que encobria o rosto 
com eléctricos de banda desenhada. 
                                      Numa cidade havia bares e a sede 
  que provava o revólver quente: 
                                 a confissão apressada de que a morte

era companheira simulada. O momento sexy do show: 
                      a Mónica Cristina
  a gemer o pé que foi torcido em pleno strip-tease a abafar 
o tango

em botas altas, usadas e desusadas 
já muito antes de terem 
sido descobertas debaixo da cúpula de uma igreja; 
                         e logo numa impune

linguagem dizia ser mãe, dançava com um jeito de menina 
trágica, ganhava a coroa de rainha enquanto a face 
                                                    marcava a ruga ácida

que abocanhava o dia à terceira rodada.
Essa candura fugia 
para o fim do rio, fugia para o fim do mundo, era o sinal de 
que os mortos haviam morrido

tranquilos, divinamente imortais - a ambrósia dos deuses. 
A plenos pulmões, o ar latejava a curva do parágrafo:  

  o Tejo tinha gentes em escada sob a margem
e música fantástica. Lugares fadados e a frase 

                                                   nunca se encontrava. 






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