Abrem-se e estreitam-se as vozes,
os seus inquietantes
peitos,
as rosas, e a branca febre da morte vem
glorificar-se
em vazia
dança de ar, em primaveril aragem,
no repousado fruto
estival,
em fragrância outonal, são as mesmas mãos,
e toda
habitação, no encoberto bosque,
a rastejante urze que só perfura a rocha.
Em cada estação se perfura a luz ritmada,
e nesse circo
de luz,
um palhaço, o riso em seu perene encanto,
e assim se
resgata
a linha em seu contínuo esforço,
em suave alimento, em
fome,
de monte em monte e pela branda urze -
adentro outro monte.
O seu reflexo compromete o sol,
faz dançar a roda que
sustém
a rosa, e em todos os sons que desmembram
o mundo - as artes
e linguagens; logo na inversa página se destaca
uma
outra luz, a da fabulante rosa: numa estão todas,
e
em cada uma, estão. Louco o mistério, o abismo
que peregrina em plano
inacabável,
excessivos todos sinais em seu branco olhar,
a rosa é
um pleno
lugar sentado num comprido espaço e além dele
o seu
branco deserto, faísca, e singular
relâmpago
vai rompendo, sulca em toda a graça. Espectral,
a sua
imagem oscula a fábula, bichos milagrosos,
pélagos
de terras
colhem em cada forma a que vai mais longe
e em vazio
aberto nas mármores dos chãos -
como quem já invocasse a
multidão.
Lado a lado, no fundo das planícies, ocupa-se
a rosa
com a rosa, cheirando o pesado húmus,
o seu espelho
dentro, antes que o silêncio as lavre,
e venham suas vozes,
ergue-se, cala-se
no ar apressado, ágil, que se levanta nesse corpo
assombrado como em passos já anunciado,
e que de pronto se levantava
sobre
um manto verde, em vertentes de algas.
Assim era o
sinal que se
transfigurava em luzente ferida. E dessa
aventura
antiga, ao mar caindo, pela nuvens se fez terras,
se
fez espíritos da terra e pelas raízes
em coroas de outros céus, essa alma
de águas é esta rosa de alba - a que dançaria
em todas
as formas, entre espinhos, que celebrava
um corpo aclarado pelo vinho que aspirava. Rente
à porta como que a sua fala exalta: Quietos!
Aos mais quietos
dentro em suas formas -
figuras de animais ou plantas - esses que não sendo
vão chegar ainda. E já a rosa toca o ar mais
leve entre ir e voltar.
Copyright © Luísa Vinuesa. Todos os Direitos Reservados