Parábolas


© André Kertész



           A janela alonga-se pelo 
quadrante oeste da paisagem.
É junto às vidraças que amanhece 

a prisão da aurora:

dilatar o tempo, o preço da águia que voa
              e tanto demora no seu voo. Estou de 

costas para o mar .
esse é o homem, um vago naufrágio de 
marinheiro cansado
     As águas perduram em silenciosas figuras

e nelas

há os tambores que embalam 
o útero com a cadência de
  um potro selvagem em todo o horizonte da

página.

A palavra tece o prelúdio à morte da imagem, 
o salmo
  do horizonte incendiado na vasta desordem 
dos rios.

  Estou agora frente a um labirinto de
engrenagens:
senhas de uma geometria de palavras 
- passaporte que

      desmembra a hora, a membrana da hora: 
um requiem lavrado

no ar. A geografia da boca desdobra 
o sangue 
 no corpo do vocábulo e hipnotiza o livro
cativa o abismo, as palavras tardam entre

o fazedor e a ideia.

 Alimento-me do sonho, conto-lhe fábulas,
para que
                          o filho pródigo  
    regresse a casa.

     Vou estar em bicos de pés sobre a cidade,
     a melodia invade a manhã, árias barrocas 
de um conto oriental, serpentes 
que demito.

      O tempo semeia o oblívio das pálpebras 
sobre 
          os lugares onde o vento passa. 
                               
Deliro com os pássaros em pontes
        quebradas de um continente até outro
promontório de

     gente.       Deserto das colinas que avisto,
frágeis 
crianças:

     
parábolas. A clareza lunar no peito,
 a remota canção solar do universo





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