Ad noctem


© Jeff Miller



Nas lágrimas de orvalho copulo 
com as cinzas,
tambores & palavras obscuras - 
crença e fantasia,
poema infinito, reino da terra 

em máximo mistério:

a vida é a noite, eu sou humano - 
destino de ferros.

Perene é a duração de sonhos 
no império de noites,
orbes de astros que repousam 
sobre gruas hialinas.

A vida passa entre horas 
como primavera - a noite,
mãe sapiente e amante. Obscura 
noite - o meu luto
em sono eterno - sonho inesgotável, 

fadiga celeste.

A noite, virgem terrena, sacra bebedeira
em exaltação nocturna, e fogo inteiro.
Na voz da mente, 
a vida morre eternamente na vida,

cálice erguido ao supremo astro - 
aquele que
ama e crê não chora no sepulcro, 
e de todos o sol é rosto divino - 
a esfera luminosa, o nome e morada.

Nome necessário, morte necessária, 
plurima mortis imago & homo vívido,
um cântico mortal para a eternidade

em epifanias & oráculos de criança: 
o cálamo absorto no espelho d´alba.





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Recriação poética a partir da obra Os Hinos à Noite de Novalis, ed. 1988. Tradução de Fiama Hasse Pais Brandão. (NdA)