Asfalto


© Jean Dieuzaide



Frases carismáticas são corvos a rimar os versos
como cataventos,
crianças são pretexto - em tudo nada efeitos - 
a emoldurar a tarde

em presságio do tempo: a proximidade do 
momento é essa árvore
estropiada no momento em que o lenhador 
suspende no seu gesto

o vento. Seria tão fácil levantar cada momento
 em que o machado
decepa a corda, e persiste como um sino derrubado

após o assalto,condenado que ergue alto a 
guilhotina. 
Na lareira vizinha, estalava
musical um telefone, a rua triste, as tímidas 
varandas, o sol que se

despede entre luzes que gastam o humor do céu; 
e dizes que não é
tarde, em memórias nasce a sina de quem se 
presta
ao jogo

de prestidigitação, e a que vende a paixão 
em pura-eterna ilusão
a vibrar a superfície polida da pedra, esse asfalto;
e desencontros

vestem a poeira, a câmara ao ombro para recriar
 a alma sem alma,
com abundantes almas a que agora pertence 
a imagem. Através da

coluna vertebral, máscaras perseguem outros fins
entre os mesmos labirintos: 
a mão vai rasgando sacos de supermercado 
nessas horas

que o dia paga. Porque o asfalto é o mundo, mastro 
e vela do navio

fantasma - esse mar que transborda a margem entre 
olhar a árvore,  
e nela ser o vórtice de um tronco que ao vento 
entre os olhos voava.





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