Cães de açaime


© André Kertész



1

Soltem os cães de açaime -
                        um requiem breve de memórias:
que não mordem a dor. Cada face morde 

 a outra face junto ao estuário da palavra. 
O universo é o outro nome que se dá 

     ao caleidoscópio a contar e descontar a lenda
de estações que se entregam a curtas metragens.

Ao abandono pontifica a rosa -
flores para los muertos
    – diz a voz – flores para o vento e a distância.


2

O efeito cénico não resulta porque a actriz estava
     de perfeita saúde e o seu dentista com a batuta 
       em punho onduzia o ensaio da peça - 
o último acto de um 

coração apressado. Libertem os cães raivosos 
          sem açaime - o amante que não inventa
a amada, 

        o vento que espantar a idílica morada contra 

uma pista
 de circo no fumo de um cigarro. Deveria amar-te
     num degrau aberto do trapézio sobre a estrada:

    a sublime limpidez que baptizava ao rubro
           cada abismo de bocas na encruzilhada




Copyright © Luísa Vinuesa. Todos os Direitos Reservados  

Outros poemas...

Cave canem

Papéis soltos

As tecedeiras

Fim de linha

Tango

Branco ou tinto

Pélago da terra

Génesis

Os alquimistas