Epitáfio


© Masao Yamamoto




A Joana, in memoriam





Estou a morrer, sei que estou a morrer,  
tombam gotas de poeira
sobre o vestuário, há uma cabeça de criança 
    e a tarde de insónia, 

a água que incita para a noite a sobra do dia 
     e o salto do dia, a queda da noite, cântico 
e sacrifício da alvorada. Estou a morrer,

    essa morte é lenta: um desfile aprazível de 
  aparência sólida, com tenazes que agarram 

a rocha e cada rocha é uma vaga de espuma
acima dos olhos e esses olhos líquidos 

 peregrinam até ao fim 

  do mar que neles moram. Morrer em areia 
       húmida - parágrafo da espera, metáfora 

poética, alquimia certa, sonolência do 
corpo 
em produção, a anunciar

           com mágico fervor a curva
   da mão que dita o amplo abraço 

   aos mundos sem terra. E nada mais sente





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