Epitáfio
A Joana, in memoriam
Estou a morrer, sei que estou a
morrer,
tombam gotas de poeira
sobre o vestuário, há uma cabeça de criança
sobre o vestuário, há uma cabeça de criança
e
a tarde de insónia,
a água que incita para a noite a sobra do dia
a água que incita para a noite a sobra do dia
e o salto do dia, a queda da noite, cântico
e sacrifício da
alvorada. Estou a morrer,
essa morte é lenta: um desfile aprazível de
aparência sólida, com tenazes que agarram
a rocha e cada rocha é uma
vaga de espuma
acima dos olhos e esses olhos líquidos
acima dos olhos e esses olhos líquidos
peregrinam até ao fim
do mar que neles moram. Morrer em areia
do mar que neles moram. Morrer em areia
húmida - parágrafo
da espera, metáfora
poética, alquimia certa, sonolência do
corpo
em produção, a anunciar
com mágico fervor a curva
da mão que dita o amplo abraço
aos mundos sem terra. E nada mais sente
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