Fantasma


© Masao Yamamoto



A tarde. Esquecemos o luar. A lua cheia é 
                           uma invenção.

Passámos de mãos dadas, - 
não nos detivemos entre os
    beijos que exaltam os olhares. 
As linguagens morreram, 

palmas de mãos queimaram-se 
em corpos 

de fantasma, e um vento soprou
             a flor moribunda: 

a tarde. O abismo 

é uma tentação para os peregrinos - 

os cavalos sopram  sobre nuvens, asas de memória
                    tentam golpear a sorte
mas não atingem o céu. Nas pálpebras 
 vão cessando os traços, a cor da lembrança, frases 

que recriam um álibi, 
   o filtro mágico que sangra o braço. Tarde. Na vela,

mastros e fantasmas, um barco paga
                        a fugaz passagem, 
navega a noite num tímido pacto de resgate: 

 supremo

é o poder de quem se entrega
                                              à criação do mar:

 - esquece
              o nome a que se deu, 
                  e nunca saberá que lhe pertence.




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