Rapsódia das horas
![]() |
A brisa sólida das pálpebras, a
esfinge disfarça
um carácter de água que percorre o litoral de
feridas:
o olhar pesa sob o ventre da profecia -
há
o clube de gémeos inquietantes no fundo
da pupila e o nevoeiro retrata a lume a viúva
de espáduas vermelhas -
o corpo flácido entre telhados e pombas
e cinzas. O telefone aberto, o fio pendente,
a cicatriz do tempo. A boca
não atraiçoa
a torre erguida nem o cartaz que abre
a malícia em horário flexível. Que corpo se
ocupa da
fala, o rumo certo de Noé & Co,
o derradeiro concerto
em singular harmonia, a valsa excessiva
que aliena
um
aniversário com adágios populares e velas –
cama, mesa, roupa lavada, o dinheiro cantará
quando houver giz a ferir o quadro negro
a calcular os dias, as letras e o calendário.
Os cálculos persistem
colados ao eco das
tabelas, escadas de incêndio
do observatório da idade. No limiar da insónia
o carrossel deosemáforo decretam um dilúvio
de todos os sonhos quando se
abre o piano. Gershwin, numa estranha gravura,
a teclar a rapsódia das horas - hóspede
oracular & eternidade:
a claridade que anuncia
Copyright © Luísa Vinuesa. Todos os Direitos Reservados