Recado anónimo
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Pela mão que augura a noite, vem
um recado anónimo. Há luzes que tecem
um lavrado efémero na terra, e transmito
as luzes, - a mão enche-se pouco a pouco de
pequenos coisas
que afagam máscaras de cena. Há faróis acesos
em desvio de
de estrada, e a roda frágil de um carro
caminha
para a morte,
num longo travelling atravessa os
corpos antes
de amanhecer
o vento. Cruzo um labirinto com os dedos
e afago com moleza
a teia, o canto do cisne é o silvo da serpente, -
estertor de um
pássaro em calor de tarde. Vem, não
venhas -
há bilhetes que
se deixam na noite e depois esse gesto
por tudo
o que não foi
e ainda a morte, essa invenção do homem
que aprisiona em datas
as estações: anónimo presságio e testemunho
que facilmente apago,
na curva da paisagem
construo o paradigma
do desejo; nesse ponto vago e impreciso,
dou-te os pensamentos
para brincar à cabra cega, à leitura
do borrão
de tinta - vem,
não venhas, regressa pela memória, escreve
a noite que conduz
até às sete portas antediluvianas: -
as sete
chaves que rasgam
a manhã. Para ti o olhar que não se vê -
pressentimentos, o fim
do luga, a atemporalidade dos espaços,
a longa jornada
para
a dor de abrir portas em surdina:
a fonteira que cumpre o ritual
de iniciação às constelações que,
entre si,
disputam a distância
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