Zénite
No início era o nada. Aí ser e pensar não habitava,
e tal como todos somos o nada, - o eterno,
o finito,
cada tempo, e o espaço:
o nada inteiro completa-se
em toda parte - relativo a cada lugar.
Seguro é o que é mutável, aquilo que
tudo derruba
e cria a partirdo nada - não é o pensamento que
faz o homem. Na tua alma há
o ser por fazer: - sê único, e a plenitude, e o nada
a ti pertencem.
Acima de Deus, há outro deus:
Acima de Deus, há outro deus:
a possibilidade improvável,
a realidade
ilusória, a vida, e a morte,
o verdadeiro e o falso,
a luz e as trevas, o bem e o
mal - gémeos
na mesma sentença e mesmo acto -
esse
é o amor que rasga
o amor. Um sacro, outro traidor, ambos
o
hermafrodita pioneiro.
Criatura mais temerosa não existe,
esse é o amor do homem,
o alfabeto do homem -
as duas divindades
que se negam:
o amor e a morte
que se negam. E sem limite
é a classe dos deuses pois toda a estrela é
um deus, e cada estrela
se faz homem: - todo o acto que fizeres
aos
deuses, a ti será feito.
No longo intervalo do zénite do céu -
solitária oscila cada estrela
.
Esse é o único deus do homem, e de que os
mundos
se alimentam. Esse é o homem supremo, aquele que
com a mão acende e apaga as suas amplas moradas -
e a esse último deus,
o homem dará as suas preces
preces que avivaram a luz da estrela.
Ainda que o mais vasto esfrie
a estrela abrasa e para isso é feita a a estrela.
Entre o homem e o seu mesmo deus não há
outro
poder que seja.
Copyright © Luísa Vinuesa. Todos os Direitos Reservados
Recriação poética de Sete Sermões aos Mortos de C. G. Jung, integrado em Memórias, Sonhos, Reflexões, ed. 2006. (NdA)