Arcana


© Dora Maar



A Paulo Jorge 




Envolta em seu poder oculto, 
                a imperatriz detém seu mastro. 
O seu cabelo as estrelas iluminam, e a seus pés 
crescem flores 
de cima para o chão: - É roda dos desejos - 

tudo e nada, alfa, 

ómega, o infinito agora em ti presente. Abandonando 
olhar que transporta os quatro elementos
                                    e o quinto que interpreta
em seu silêncio. Alimenta-se o sol, e a criança ri

ao voar com os

pássaros e as sementes-borboleta são ténues

em seu momento. Já as asas dos anjos em presença se 
                 abrem em intensos jogos
transparentes: o fogo e água em cavalo de sorte, 
triunfando sobre a morte. Essa mulher é o leão e o leão 
é essa mulher - ambos são um uma viagem prenhe

de desejos na espessura da carne 

dos sentidos. Que asas terá o cornuto-ser, 
                               que espada terá como sua 
se o falo dissipar o seu poder, e a mulher quebrada 
sob a verga, é dela que se alimenta o seu vigor - 

tão claro é o sacrifício de 

quem sofre, rege a morte-vida - o imortal, sem carne 
que lhe dê sustento, voa plano, alto pelo chão - 

e já a trombeta vibra

nas alturas, rege a hora dos mortos se erguerem
e os vivos  
sem outra escolha senão a de ser uno
                        e igual a dar-se morto
em sempre vida. As chaves que conservas 
       não são tuas não

te pertencem, sabes bem, destina as chaves
ao deus-homem,
a todo homem que saiba abrir a porta -

e sedento é o desejo, 

delírio cego, querer julgar o homem no presente: - 
como falar de futuro no passado com a espada que 
    confronta o tempo. 

Pesos e medidas para quê, 
se o mundo tudo oculta, 
tudo olha, balança em seu vapor etéreo, 
livre garça - 
pois nada é tudo e
nada é mais que nada. O casamento alquímico 
                      não mente: - dois opostos fazem

um, nasceu agora outra semente quando a lua tece
a sua sina em nova fonte, volátil, quente e fria, branca, 

e escura. Porque não morre o cavalo do vento, 
se é o lugar de todos os presentes, 

e um esqueleto que afirma: - Este já fui, agora sou 
um outro. Em queda livre se escapa o coração, 

não tem patrão, não tem mestre, ilusão, sem nome hoje
                cai, amanhã se levanta, viver nada,

  nada, tudo haver, e cedo o jogo é agora o mapa de 

uma mão. Poder, querer, é quem já foi, quem é - 
                                  a única matéria

      de um livro inábil que se talha no fundo do abismo.
     Rompe em noite o grito da manhã, 
é quase real

        esse possível como pensável é o inteiro espaço,
           esse lugar de peregrino onde a voz sibilante
 agrafa o memorando à vasta insígnia de seu peito 


                   Rota Taro Orat Tora Ator 

abre-se um palco, é já real a presença 
                                                     no eixo de seus braços.





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