Anima mundi


© Klaus Kampert



Nascido de um ventre que 
              uma só sílaba constrói: secreto
é o mundo em seu concreto mundo
em campos talhados,
              vasos sagrados, águas antigas - 

um deus aprisiona o lugar

sagrado: umbigo da terra, margens de erva, 
 solo da terra, monte profético, chão aplanado, 
usado de gente, 
                      hálito leve, nuvens canoras, 

peito inflamável, o peito do homem.

Nascido de mares de incerteza, 
labirinto em rua e praça, o caos antiquíssimo 
as jóias da casa, o riso amável

não anda longe - hóspede que replica a alma,

a vida curta sob a face do céu na faca do céu, 
quotidiano da alma, sacrifício em terra, 
          propriedade de um deus, 
filho de deuses e gentes terrenas: sinais 

de sangue, o ermo da estrada, melodia incerta 
em cordata harmonia até
              onde vai o coração, e o deus alimenta 

a seiva da estrada, o tecto das folhas - solitária 
memória entre granizo e fogo.

      Nascidos de forças divinas errantes, 
                os deuses de éter, o fogo-éter 
     dormem sob florestas e nuvens até de onde

o deus oculto 
              sob o manto da existência, 
  proclama: existam! deus é um estilista,

      o céu a casa de um artista
                    e a diáspora recria os lumes 
em negros abissos de continentes





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