Poetarias


© Masao Yamamoto




Libertai-me do lugar que ocuparei no mundo,  
                                                                         pântano ocidental 
mundo cinzento e absurdo    e cada sílaba    a mesa operatória de uma 

máquina de costura, - libertai-me dos mortos automáticos
relâmpagos
invisíveis, que não sou freguês de tertúlias e    tão pouco me interessa  

a literatura, e que o poeta é o verdadeiro roubador do fogo seja 

a coisa que menos me interessa, o objecto e dejecto de um qualquer 
cacarejo da turba académica: tudo bons rapazes. Que bastam-me

sonhos e delírios, não há melhor companhia - as areias imponderáveis
as infinitas fantasmagorias que testemunham os dias são bons rapazes 

    Um homem quer-se radical como o poeta queria ser acontecimento 

que tal fazê-lo em acontecimento?
                                                           e quem diria? Nós deitámos 

a mão a um animal morto e depois?. Quando morre um poeta torna-se
em poesia , tal era a sina que os astros ditavam em rebanho de estrelas 

invisíveis. Não teria sido então mais simples - deixa-se andar o mundo 

e o que está lá dentro? Escreva-se antes com toda a raiva outro poema 

parasita da realidade, espião em todas janelas
 a máscara de esgrima e a lâmina ágil do último assalto 
                                                   um homem vai guilhotinar-se na janela




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