Andrei Voznesensky

Os Anti-Mundos


Existe Bukashkin, o nosso vizinho,

em cuecas de mata-borrão,
e, como balões, os Anti-mundos
pendurados acima dos seus cofres.


Lá em cima, como um demónio mágico,

governa o Universo com inteligência,
O Anti-bukashkin aí permanece
dando uma carícia a Lollobrigida.


O Anti-grande-académico

tem uma visão de papel mata-borrão.


Vivam os Antimundos criativos,

grande fantasia no seio de idiotas palavras!
Há homens sábios e tontos camponeses,
não há árvores sem desertos.


Há Anti-homens e Anti-camiões,

Anti-máquinas em bosques e florestas.
Há sal da terra e há uma imitação.
Falcão que morre sem uma serpente.


Gosto mais dos meus queridos críticos.

O maior deles bate todo o resto
pois em seus ombros não há cabeça,
ele tem uma Anti-cabeça em seu lugar.


À noite durmo com as janelas abertas

e oiço os anéis das estrelas cadentes,
Lá de cima caem os arranha-céus e,
e para nós, olham, como estalactites.


Bem acima de mim de cabeça para baixo,

cravada como um garfo no chão,
a minha bela e alegre borboleta,
o meu Anti-mundo, vai sobrevivendo.


Interrogo-me se é certo ou errado que

os Anti-mundos possam namorar à noite.
Porque deveriam sentar-se lado a lado
assistindo à TV a noite inteira?
Não entendem uma única palavra.
É o seu último encontro neste mundo.
Sentam-se e conversam horas a fio, e
vão-se arrepender disso no final!
Os dois têm ouvidos e olhos ardentes,
parecendo borboletas roxas...


...Um conferencista disse-me uma vez:

"Um Anti-mundo? É loucura!"


Estou meio adormecido e preferia

acreditar a duvidar da palavra do homem...
O meu gato de olhos verdes, tal uma antena,
vai recebendo os sinais do mundo.



Destino


O destino está sobre mim. Porquê navegar?

A dormir em cima de troncos, vagabundo, viajo.
A dor é um porão,
que se abre em cada antiga casa.
Uma vala abaixo de mim e o destino acima.


O que queria? Bem, uma vida de contentamento.

O que alcancei? Um caixão e uma coroa de flores...
Sob o berço, uma sepultura latente.
O destino está acima de mim, uma vala abaixo.


No céu a minha alma, como um cão de caça,

uiva, desesperando,
ansioso para premir o gatilho.
O destino caiu sobre o meu passado familiar,
e na terra onde o destino é meu parente.


O que fiz, além de simples

poemas que de passagem escrevi até hoje?
Tenho sido um pára-raios para as gentes.
Agora quebrei as costas. Tal é meu destino.



Romance Russo-Americano


Na minha terra e na tua batem no feno

e dormem a noite inteira de modo semelhante.
Aí está a Lua dourada com um duplo brilho.
Ilumina a tua e a minha terra.
Ao mesmo preço baixo, ou seja, de graça,
nasce o sol para ti e põe-se para mim.
O vento é fresco ao romper do dia,
a culpa não é tua ou minha, de qualquer maneira.
Por detrás das tuas e das minhas mentiras
há a dor e o amor pelas nossas pátrias.
Desejo que na tua e na minha terra em algum dia
apartemos todos os idiotas do caminho.




Andrei Voznesensky

Tradução do Russo de Alec Vagapov.
Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa.