A autora do blogue
A rosa é sem porquê; floresce porque floresce,
Não cuida de si própria, não pergunta se a vemos.
Angelus
Silesius
Descrever um acto poético para quem escreve o que, convencionalmente, se denomina poesia é a interrogação de um processo que não lhe pertence, é a escassa tentativa da restituição de uma atmosfera que lhe foge porque o seu território é estranho a qualquer fronteira que trace os seu limites e a sua escolha. Porque o acto de poetizar, se é que existe, é um pálido reflexo das portas do sol e das sombras que a palavra joga, desdobra, transporta, abandona, edifica e destrói em cada sílaba que arrasta outra sílaba até se esgotar o ciclo, apenas um ciclo, dentro de outro ciclo, esse, que ao longo do seu limite... nunca se esgota. Um poema busca a verdade? talvez... mas que verdade pode assistir à palavra? Ela existe por si mesma acima do verdadeiro e do falso, e tão distante e tão próxima. Essa palavra para a qual a verdade não tem qualquer espessura e contraste dentro do seu contorno e fala. Estranha a si é também a beleza, as formas que a espartilham e a projectam como um objecto exterior, estático e, possivelmente ausente porque deixou de reclamar a sua pertença. A fala? sim, a fala, essa parcela de si mesma, move o seu universo todo, cria e recria os insondáveis espaços da linguagem em múltiplos diálogos onde não existe outra linguagem que não seja a sua: a única fala que exorciza todas as falas. É assim que o poeta e o leitor se encontram num poema. Cúmplices de um resgate do acto do poema. Desse poema que se faz a si mesmo, a favor e contra a sua vontade, e de todos. Aí reside a sua liberdade: ser algo que fala apenas coisas de si mesmo. Um poema-objecto? um poema-sujeito? Não, um poema-ser de si mesmo. Porque toda a criação existe por si mesma... para si mesma. E para outras (re)criações. Em toda a sua natureza essencial manifesta-se enquanto existente. É livre de pensar que não existe tanto quanto existe. Tanto quanto o poeta-leitor detém a única voz que é o (pre)texto para testar o exercício da sua liberdade. A última fonte, a primeira, que invoca a presença real, primordial e interna, anterior à palavra que prefigura o poema, de corpo inteiro.
Luísa Vinuesa