A autora do blogue


A rosa é sem porquê; floresce porque floresce,

Não cuida de si própria, não pergunta se a vemos.


Angelus Silesius




Descrever um acto poético para quem escreve o que, convencionalmente, se denomina poesia é a interrogação de um processo que não lhe pertence, é a escassa tentativa da restituição de uma atmosfera que lhe foge porque o seu território é estranho a qualquer fronteira que trace os seu limites e a sua escolha. Porque o acto de poetizar, se é que existe, é um pálido reflexo das portas do sol e das sombras que a palavra joga, desdobra, transporta, abandona, edifica e destrói em cada sílaba que arrasta outra sílaba até se esgotar o ciclo, apenas um ciclo, dentro de outro ciclo, esse, que ao longo do seu limite... nunca se esgota. Um poema busca a verdade? talvez... mas que verdade pode assistir à palavra? Ela existe por si mesma acima do verdadeiro e do falso, e tão distante e tão próxima. Essa palavra para a qual a verdade não tem qualquer espessura e contraste dentro do seu contorno e fala. Estranha a si é também a beleza, as formas que a espartilham e a projectam como um objecto exterior, estático e, possivelmente ausente porque deixou de reclamar a sua pertença. A fala? sim, a fala, essa parcela de si mesma, move o seu universo todo, cria e recria os insondáveis espaços da linguagem em múltiplos diálogos onde não existe outra linguagem que não seja a sua: a única fala que exorciza todas as falas. É assim que o poeta e o leitor se encontram num poema. Cúmplices de um resgate do acto do poema. Desse poema que se faz a si mesmo, a favor e contra a sua vontade, e de todos. Aí reside a sua liberdade: ser algo que fala apenas coisas de si mesmo. Um poema-objecto? um poema-sujeito? Não, um poema-ser de si mesmo. Porque toda a criação existe por si mesma... para si mesma. E para outras (re)criações. Em toda a sua natureza essencial manifesta-se enquanto existente. É livre de pensar que não existe tanto quanto existe. Tanto quanto o poeta-leitor detém a única voz que é o (pre)texto para testar o exercício da sua liberdade. A última fonte, a primeira, que invoca a presença real, primordial e interna, anterior à palavra que prefigura o poema, de corpo inteiro. 


Luísa Vinuesa 


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Nascida em 1954, Luísa Vinuesa frequentou o Curso de Formação de Actores e Encenadores da Escola de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1971/76) foi professora de Filosofia e de Psicologia no Ensino Secundário, e técnica superior nas empresas CTT (Correios e Telecomunicações de Portugal) e Portugal Telecom, desempenhando funções nas áreas de Tecnologias de Documentação e Informação, Formação Profissional, Recursos Humanos, Gestão Comercial e Sistemas de Informação. 

Dedica-se no momento presente ao exercício da Escrita Criativa, à participação em projectos de natureza multidisciplinar que integram a Filosofia, o Teatro e a Poesia, e ainda à tradução da obra poética de Sri Aurobindo Ghose, actividades que exerce sem fins lucrativos. 

Como bloguista publica traduções em versão adaptada à Língua Portuguesa da poesia de: Emily Dickinson, Rabindranath Tagore, Sri Aurobindo Ghose, Lola Ridge, Robert Frost, William Carlos Williams, Alfred Kreymborg, Ezra Pound, Hilda Doolittle, Marianne Moore, T. S. Eliot, Edna St. Vincent Millay, Dorothy Parker, Louise Bogan, Laura Riding,  E. E. Cummings, Langston Hughes, W. H. Auden, Elizabeth Bishop, Charles Bukowski, Frank O´Hara, Allen Ginsberg, John Ashbery, W. S. Merwin, Maya Angelou, Anne Sexton, Margaret Atwood,  Sylvia Plath, Diane di Prima, Louise Glück, Claudia Emerson; e de poetas da geração Pós-Beat constantes da antologia editada por Vernon Frazer. 

As traduções destinam-se exclusivamente a fins culturais e educativos ao abrigo do Copyright © Fair Use do Direito de Autor, vigente nos Estados Unidos. E é de acordo com o essa lei que o mesmo princípio se aplica aos poetas apresentados em página própria neste blogue cujos poemas disponíveis online excluem qualquer tipo de utilização para fins comerciais. 

O blogue é zona livre do AO 1990.

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