Hölderlin
Aos Poetas Jovens
Queridos Irmãos! talvez a nossa arte amadureça,
Pois, como o jovem, há muito ela fermenta já,
Em breve em beleza serena;
Sede então devotos, como o Grego o foi.
Amai os deuses e pensai nos mortais com amizade!
Odiai a ebriedade como o gelo! Não ensineis nem descrevais!
Se o mestre vos assusta,
Pedi conselho à grande Natureza!
Aplauso dos Homens
Não é meu coração sagrado e cheio de mais bela vida
Desde que amo? Porque é que mais me estimáveis
Quando era mais orgulhoso e brutal,
Mais verboso e mais vazio?
Ai! à turba agrada o que é bom pra o mercado,
E o servo só sabe honrar o violento;
No divino só crêem
Aqueles que o são.
A Natureza e a Arte ou Saturno e Júpiter
Alto, tu governas sobre o dia e a tua lei
Floresce, tens na mão a balança, filho de Saturno!
E repartes as sortes e ledo repousas
Na glória das artes imortais do domínio.
Mas dizem os Poetas que para o abismo
O sacro Pai, o teu próprio, outrora
Deterrste e que lá em baixo se chora,
Onde os Indómitos estão justamente antes de ti,
Inocente o deus da idade de ouro há já muito:
Outrora sem custo e maior do que tu, embora
Não tenha ditado nenhum mandamento
E nenhum dos mortais por nome o nomeasse.
Pra baixo pois! Ou não te envergonhes da gratidão!
E se queres ficar, serve ao mais velho
E concede-lhe que antes de todos,
Deuses e homens, o Poeta o nomeie!
Pois, como das nuvens o teu raio, assim dele
Vem o que é teu, olha! Dá dele testemumho
O que tu ordenas, e da paz
De Saturno cresceu todo o poder.
E quando eu no coração tiver algo de vivo
Sentido e alvoreça o que tu formaste,
E no seu berço tiver passado a dormir
Em delícia o tempo mudável,
Então eu te conheço, ó Crónion! Então te ouço, a ti
Sábio mestre, que, como nós, um filho
Do Tempo, dás leis, e quanto
O santo crepúsculo esconde, anuncias.
Poemas da Loucura
AMIZADE, AMOR…
Amizade, amor, igreja e santos, cruzes, imagens,
Altar e pulpito e música. Soa-lhe ao ouvido o sermão.
Depois de comer, o ensino dos filhos parece conversa
Ociosa e sonolenta pra homem, menino e raparigas, mulheres pias;
Depois vai ele, o senhor, o cidadão e o artista,
Alegre campos fora e pelas veigas pátrias;
Os jovens seguem também, contemplativos.
PRIMAVERA
Lá dos montes ao longe desce o dia novo,
A manhãzinha, do crepúsculo acordada,
Sorri à humanidade, alegre e enfeitada,
De alegria suave está cheio todo o povo.
Vida nova ao Futuro quer abrir-se,
De mil flores parece qu’rer cobrir-se,
Sinal de alegres dias, o grande vale, a Terra;
E assim da Primavera a queixa se desterra.
Submissamente
3 de Março de 1648
Scardanelli.
À MORTE DE UMA CRIANÇA
A beleza é própria das crianças,
É talvez mesmo a imagem de Deus, –
É sua pertença a calma e o silêncio,
E isso traz também louvor aos anjos.
DE UMA CARTA DO MARCENEIRO ZIMMER À MÃE DE HODERLIN
Tubinga, 19 de Abril de 1812
(…) Mandei vir o Senhor Professor Gmelin para ver como médico o seu querido Filho, e le disse que ainda nada se podia dizer ao certo sobre o verdadeiro estado do seu Filho mas que lhe parecia que era um afrouxamento da natureza, e infelizmente minha boa Senhora vejo-me na triste necessidade de lhe escrever que também eu creio que assim é.
A sua bela esperança de tornar a ver o seu querido Filho feliz neste mundo teria assim infelizmente de desaparecer, ai infelizmente, mas venha o que vier Ele será com certeza feliz na outra vida. Dentro de 8 ou 15 dias talvez lhe possa dar notícias mais seguras.
O seu espírito poético mostra-se ainda activo, assim Ele viu em minha casa o desenho dum templo. Ele disse-me para eu fazer um assim de madeira, eu respondi-lhe que eu tinha de trabalhar para ganhar o pão, que não tinha a felicidade de viver assim no Repouso Filosófico como Ele, e Ele respondeu-me logo, Ai eu não passo de um pobre homem, e naquele mesmo minuto escreveu-me o seguinte verso a lápis sobre uma tábua
As linhas desta vida são diferentes
Como são os caminhos e as fronteiras dos montes.
O que aqui somos, pode acabá-lo além um Deus
Com harmonias, prémio eterno e paz.
(…)
Hölderlin in Poemas, Relógio D'Água, 1991.
Prefácio, Selecção e Tradução de Paulo Quintela.
Prefácio, Selecção e Tradução de Paulo Quintela.