W. S. Merwin
A VELOCIDADE DA LUZ
Tão gradual naqueles verões foi a passagem
OS BARCOS SÃO FEITOS EM SILÊNCIO
Amarrados na mesma
argola:
A hora, a escuridão e eu,
As bússolas como
falcões encapuzadas.
Agora dói-me a tua memória,
Com
a onda de pedaços quebrados que do porto nunca partiram,
Em que
uma vez planeámos viagens,
E vêm batendo como corações
interrogando:
Que partidas houve nesta maré?
Um
sopro de terra, um hálito quente,
Apertam o frio ao redor do
umbigo,
Embora todas as costas, salvo a primeira, tenham sido
estrangeiras,
E a primeiro só regressou a casa quando
abandonada.
A nossa escolha é nossa, mas não a
fizemos
Contendo como o faz, o nosso destino
Circundado com
perdas como com corais, e
Um destino apenas até ser
inteirado.
Deixei-te a minha esperança para te lembrar de
mim
Embora haja agora pouca semelhança.
Neste momento não
podia acreditar em nenhuma mudança
O mastro
interminavelmente
Vacilando entre as mesmas constelações,
A
noite nunca retirando a sombria virtude
Do porto moldado como um
coração,
O mar pulsando como um coração
O céu arqueado
como um coração
Onde sei que a luz irá quebrar como um
grito
Acima de uma qualquer descoberta:
"Vazio.
Vazio!
Olha!"
Olha. Esta é a manhã.
PALAVRA
No último minuto
uma palavra espera
nunca ouvida desse modo antes nunca
repetida
ou jamais recordada
que sempre foi uma palavra familiar
usada
ao falar em linguagem comum
recorrências quotidianas da
vida
não recém-escolhida ou no tempo ponderada
ou um
assunto para comentar de seguida
quem teria pensado que era essa
a única
a ser dita desde os primórdios através de
todos
os seus usos e circunstâncias para
exprimir finalmente esse
significado próprio
para o qual há muito era a única
palavra
e pareça agora que qualquer outra serviria
W. S. Merwin in Poems, Poemhunter, The World's Poetry Archive, 2004.
Versão livre em Língua Portuguesa de Luísa Vinuesa.