Nika Turbina
À meia-noite
A porta abrirá.
E de repente voa até mim
Um bruxo estranho
Um pássaro azul
À imagem da infância
Temos um cavalo ligeiro.
Voa com uma rima tocante
Vamos, tenta, apanha.
E, escapando, uma voz a acenar
Ouço-o chamando para longe.
Para a distância da solidão
Para a distância da despedida
Em lágrimas, o adeus
E a alegria se perde.
Cavaleiro a voar
Com uma rima tocante
Não acredita em calúnias.
E pede-me uma despedida
Numa hora de silêncio
À hora do início das estrelas
Um pequeno presente -
Para uma rima alada -
Transporta o meu coração.
…
O limite dos meus sonhos
Ainda não chegou.
Deambulo pela vida
Como uma criança
Num lençol branco
Atirando uma alma
Para o abismo da esperança.
Assim cairá
Pela força de um golpe
Para que possa cantar
O advento das novas palavras
Simples, bondosas
Contrárias a toda analogia.
…
Os meus poemas são pesadas
Pedras pelo monte acima.
Levá-las-ei até ao penhasco
Ao longo de todo o caminho.
Caem de bruços na relva
Não há lágrimas que cheguem.
Rasgando a minha estrofe -
O verso chorará.
Dor na palma da mão
Urtigas!
A amargura do dia fará
Que tudo sejam palavras.
…
Maldito dia,
Estão por nascer
os assassinos
Concebidos na véspera
dos sonhos.
Quando as auriculares
palavras
Privadas de vozes
Crucificarem a alma.
Tudo se perderá
Sem tempo
…
Não escrevo os meus poemas?
Bem, eu não.
Não grito que não há versos?
Eu não.
Não temo sonhos profundos?
Eu não.
Não me precipito para o abismo das palavras?
Bem, eu não.
Acorda na escuridão
E não há forças para gritar.
E não há palavras...
Não, há palavras!
Pega num caderno
E escreve sobre
O que viste num sonho
O que se tornou doloroso e ligeiro
Escreve sobre ti própria.
Por isso, acredito em vós, amigos:
Os meus poemas não são escritos por mim.
Fonte: Poems by NikaTurbina, 30 wonderful poems with meaning.
Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa.