Dorothy Parker
AUTOBIOGRAFIA
Oh, os meus novos
sapatos brilham,
E antigo é o
meu chapéu;
O meu vestido é de 1922....
A minha vida inteira é assim.
ALMA PROFÉTICA
Porque os teus olhos
são oblíquos e lentos,
Porque o teu cabelo é macio ao
toque,
Exalta-se de novo o meu coração; mas oh,
Duvido
que isso me valha de muito.
FILOSOFIA
Se trabalhar à luz
do dia e na escuridão,
Consagrada, valorosa,
séria, verdadeira,
Poderei no mundo exibir a minha marca;
E se tal não fizer, e se tal fizer?
DE PROFUNDIS
Oh, então, será
mesmo que é Utópico
Esperar ainda vir a encontrar um
homem
Que não irá relatar, em suaves dicções,
As
estórias de miúdas que costumava ter?
OBSERVAÇÃO
Se não guiar o
carro em volta do parque,
Tenho a certeza que deixarei a minha
marca.
Se me deitar todas as noites às dez horas,
Poderei
de novo rejuvenescer a aparência,
Se me abstiver das boémias e
afins,
Provavelmente terei maior importância,
Mas vou
permanecer tal como que sou,
Porque me estou nas reais tintas
para isso.
CHARLES DICKENS
Quem o chama
apócrifo e medíocre
O fará sobre o meu corpo sem
vida.
Convido de facto esses passarões
A dar a cara ao
dizer tais palavras!
COMENTÁRIO
Oh, a vida é um
glorioso ciclo de canções,
Uma mistura de algo
extemporâneo;
Amar é coisa que nunca pode falhar;
E eu
sou a Maria da Roménia.
GEORGE SAND
O tempo que a dotada
senhora viveu
Longe do papel, caneta e livros,
Dedicou-o a
jogos amorosos
(Fazem-no tão bem em França).
EXPERIÊNCIA
Alguns homens
quebram-te o coração,
Alguns homens acariciam-te e
adulam,
Alguns homens nunca olham para ti;
E isso basta
para esclarecer o assunto.
TEORIA
Com amor ou sem
amor,
Assim fui, e assim vou.
Poupa a tua voz, sustém a
caneta -
Muito e amargamente afirmo:
Todas as canções já
foram cantadas,
Todas as palavras já foram ditas;
Poderia
alguém, quando era jovem,
Ter-me deixado perder a cabeça?
AS PEQUENAS HORAS
Não mais a minha
música regressa;
E agora ao longo de noites me deito
A
cabeça baixa, para olhar o escuro
E esperar o cinzento
infalível.
Oh, tristes e lentas são as noites de
inverno;
E triste é uma música patética;
E mentir é
triste e saber que se mente.
Dorothy Parker in
Poems, Poemhunter, The World's Poetry Archive, 2012.
Versão
Portuguesa de Luísa Vinuesa.