Emily Dickinson

A experiência escolta-nos até ao fim (1770)


A experiência escolta-nos até ao fim -

A sua pungente companhia 
Não consentirá um Axioma
Nem Oportunidade alguma


A "Fé" é uma bela invenção (185)


A "Fé" é uma bela invenção
Quando os Senhores podem ver -
Mas os Microscópios são prudentes
Em situação de emergência.


A fama é uma abelha (1763)


A fama é uma abelha.

Tem uma melodia -
Tem uma picada -
Ah, também, tem uma asa.


A Melhor Magia é a Geometria (1158)


A Melhor Magia é a Geometria

Para a mente do mago -
O seus actos comuns são feitos
A pensar na humanidade.



A Beleza - não é feita - É (516)


A Beleza - não é feita - É -

Persegue-a, logo cessa -
Não a sigas, permanece - 

Ultrapassa as Rugas. 


No Prado - quando o Vento
Corre entre os dedos -
A Deidade cuidará 
De que nunca o faças.



De Mim Mesma - banida (642)


De Mim Mesma - banida -
Assim Houvera Sido -
A minha Fortaleza inexpugnável
Até que todos ouvissem - 


Já que Me ataquei - a Mim Mesma

Como posso ter paz
Senão subjugando
A Consciência? 


Já que somos Monarcas mútuos

Como tal coisa seria
Senão Abdicando -
Eu - de Mim Mesma?



Eu moro na Possibilidade (657)


Eu moro na Possibilidade -
Uma casa mais justa do que a Prosa -
Com maior número de Janelas -
Superior - em Portas -


De Quartos como os Cedros -
Impregnáveis de olhos -
E para um Telhado eterno
As Arestas do Céu -

De Visitantes - o mais justo -
Para Ocupação - Esse -
A acrescer as minhas exíguas Mãos
Para acolher o Paraíso -



Os Poetas acendem apenas Candeias (883)


Os Poetas acendem apenas Candeias -
Eles próprios - extinguem -

As Mechas que iluminam -
Se a Luz vital


Emerge como fazem os Sóis -
Cada Era é uma Lente
A irradiar o raio da sua
Circunferência -



Não há Fragata como um Livro (1263)


Não há Fragata como um Livro

Para nos levar Terras fora,
Nem Corcéis gostam de uma Página
De Poesia empinada -
Essa Travessia leva os mais pobres
Sem o fardo de Portagens;
Quão frugal é a Carruagem
Que carrega uma Alma Humana!



Para venerar os dias simples (57)


Para venerar os dias simples
Que conduzem as estações,
Não precisas senão lembrar
Que de ti ou de mim,
Podem roubar a ninharia
A que chamam mortalidade!



Silenciaram-me em Prosa (613)


Silenciaram-me em Prosa -

Como quando era Menina 
Encerraram-me no Armário -
Porque gostavam de mim "ainda" - 


Ainda! Os mesmos poderiam ter espiado -

E ter visto o meu cérebro - às voltas -
Poderiam ter alojado um Pássaro
Por Traição - no Curral - 


Ele próprio tem apenas de querer

E tão fácil quanto uma Estrela
Olhar de cima para o Cativeiro -
E rir - mas nunca eu -



Imóvel - vulcão - vida (601)


Imóvel - vulcão - vida -

Que chamejou na noite -
Quando era suficiente escura 
Sem extinguir a visão - 


Calmo - Estilo Sísmico -

Tão subtil em ser suspeito 
A naturezas ao largo de Nápoles -
Que o Norte não detecta 


Solene - Tórrido - Símbolo -

Os lábios nunca mentem -
De Corais sibilantes partem - calam -
E as Cidades - percorrem -



Uma sépala, uma pétala e um espinho (19)


Uma sépala, uma pétala e um espinho

Numa manhã comum de verão -
Um frasco de Orvalho - uma Abelha ou duas -
Uma brisa - uma cambalhota nas árvores -
E sou uma Rosa!



Não sou Ninguém! Quem és tu? (28)


Não sou Ninguém! Quem és tu?

Não és - Ninguém - também?
Então existe um par de nós?
Não fales! apregoariam - sabes! 


Como é triste - ser - Alguém!

Tão público - como um Sapo -
Dizer um nome - o eterno Junho -
Para um Charco que o admira.



Esta é a minha carta para o Mundo (441)


Esta é a minha carta para o Mundo

Que nunca Me escreveu -
Notícias simples que a natureza dita -
Com terna Majestade 


A sua Mensagem é dirigida

A Mãos que não consigo ver -
Por amor a Ela - Doces - compatriotas
Pensem ternamente - em Mim




 Porque não pude parar para a Morte (479)


Porque não pude parar para a Morte -

Ela parou gentilmente para mim -
A Carruagem continuou, apenas Conosco -
E a Imortalidade.  


Conduzimos lentamente - Ela não tinha pressa

E eu tinha guardado também
o meu trabalho e o lazer,
Pela Sua Civilidade -

 

Passámos pela escola, onde as Crianças lutavam

No Recreio - no Ringue -
Passámos pelos Campos de Cereais Contemplativos -
Passámos pelo Sol Poente - 


Ou melhor - Ele passou por Nós -

O orvalho desenhou tremendo e o Frio -
Como uma Teia de Aranha, o meu vestido -
O meu Xaile - de Tule somente -

 

Parámos diante de uma Casa que parecia

Uma intumescência do Chão -
O Telhado mal se via -
A Cornija - no Chão - 


Desde então - já lá vão Séculos - e, no entanto

Parecem mais breves do que o Dia
em que supus que as Cabeças dos Cavalos
Apontavam rumo à Eternidade -




Emily Dickinson in The Complete Poems of Emily Dickinson, Thomas H. Johnson, 1960.

Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa.

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