E. E. Cummings


agora ar é ar e coisa é coisa: nenhuma benção

da terra celestial seduz os nossos espíritos, cujos
olhos milagrosamente desenganados

vivem a magnífica honestidade do espaço.

Montanhas são montanhas agora; céus são  céus
agora -
e uma liberdade tão aguçante ergue o nosso sangue
como se o todo supremo esse completo sem dúvida

universo que nós(e só nós)fizemos

- sim; ou como se as nossas almas, despertas do
transe verde do verão, não se aventurassem em breve 

a uma magia mais funda: aquele sono branco em que

toda a curiosidade humana dissipariamos
(de bom grado, como devem os amantes)e imortal 

a coragem receberia o mais poderoso sonho

do tempo


*


amor é mais denso que esquecer
mais fino que recordar
mais raro que uma onda molhar
mais frequente que falhar

é mais louco e lunático
e menos não deve ser
que somente todo o mar
é mais profundo que o mar

amor é menos que sempre vencer
nunca menos que viver 
menos maior que menor começar 
menos menor que perdoar

é mais são e ensolarado 
e mais não pode morrer
que somente todo o céu 

é mais alto que o céu


*


aquilo que vivemos a despeito dos espelhos,

(morreram além do relógio)nós, de nós mesmos 


somos mais que uma parte(menos que cientes) 


que dos meus livros poderiam ser até as suas prateleiras

(aquilo pelo que morremos; não quando ou a menos

se para o provar, imperfeitamente ou sempre


através de horrores estritamente hábeis e espontâneos 


que as estrelas não conseguem ver; enquanto as rosas estremecem)

aquilo pelo que morremos através de vidas (nunca pode deixar

de ver com perpétuos olhos vigilantes e suaves

cada vítima exacta, enquanto não se move) 


Ó amor, a minha almaamorosa apega-se e o coração concebe 


e a mente eleva-se(e aquilo pelo que morremos vive tão plenamente

quanto morre aquilo pelo que vivemos)


*


Humanidade amo-te

porque preferirias enegrecer as botas do

sucesso do que inquirir que alma oscila do teu

relógio de corrente o que seria embaraçoso para

ambas 


as partes e porque aplaudes

sem vacilar todas as

canções contendo as palavras país casa e

mãe quando cantadas no velho howard 


Humanidade amo-te porque

quando estás em crise penhoras a tua 

inteligência para comprar uma bebida e 

quando coras o orgulho mantém-te 


afastada da loja de penhores e

porque provocas continuamente

incómodos, ainda mais

especialmente em tua própria casa 


Humanidade amo-te porque estás

perpetuamente a guardar o segredo da

vida em tuas calças e a esquecer

que ali está e sentas-te sobre 


ele

e porque estás

a escrever sempre poemas no colo 

da morte da Humanidade 


odeio-te


*


IN)
todos aqueles que alcançaram
a boca de atleta para saltarem
dentro&fora de trens de moda
                                                (MEMORIAM


*


SILÊNCIO DE VERÃO
(Estância Spenseriana)



Relâmpagos ígneos flutuam de um lado a outro
Acima das alturas de imemoriais colinas;
O ar com sede, a garganta muda, em sua aflição
Ligeiramente lânguida, o corpo flácido exala-se
Sobre a terra.  Um silêncio ofegante preenche
A vazia abóbada da Noite com cintilantes trilhos
De prata taciturna, onde o lago destila
O parco prémio. Ouve! Nenhum rumor abisma
O silêncio absoluto das intraduzíveis estrelas.


*


s(uma


fo
lha

ca

i)
ol
i

dão


*


lUUa Sobre cIdades a lUUa

a sussurrar

menor criatura maior cU

pidez

quEm perfeitamente é quEm

a flutuar

há pouco sozInha

a mais sonhadora

SOMENTE A LUUa so

BRE CIDADES

lEntAmente ESPaLHA o ESPIRI

TO


*


concebe um homem, tivesse ele alguma coisa
ofereceria um pouco mais do que isso 

(o inverno do seu outono sendo a primavera do verão
que se mudou parando em maio de novembro)
cuja (se ruidosa, o tempo mais estranho
perturba

os porquês silenciosos de tal imortalidade)
lembrança não pode uma estranha mente paciente

instruir (nem os podres estudiosos da terra poderiam adivinhar
que para viver a vida não há regra para descobrir)

e obscuros começos têm luminosos fins
que muito menos solitário do que um fogo é sociável
escolher parceiros de cama para luas montanhas para

amigos

- abre as tuas coxas ao destino e (se puderes
nadaprender) Mundo, concebe um homem




E. E. Cummings in Complete Poems 1904 -1962, George J. Firmage, 1991.
Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa. 

Outros poemas

Cave canem

Tango

Papéis soltos

Fim de linha

Pélago da terra

Pendulum

Os alquimistas