Maya Angelou
PRESUNÇÃO
Dá-me a tua mão
Abre espaço para liderar
e te seguir
além deste furor de poesia.
Deixa que outros tenham
a privacidade
de palavras tocantes
e amor pela perda
de amor.
A mim
Dá-me a tua mão.
ACORDAR EM NOVA YORK
Cortinas a forçar a sua vontade
contra o vento,
As crianças dormem,
trocando sonhos com
serafins. A cidade
arrasta-se acordada
nos carris de metro; e
eu, um alarme, acordada como um
rumor de guerra,
permaneço deitada até ao amanhecer,
não solicitada e ignorada.
A GLÓRIA CAI
A glória cai à nossa volta
enquanto soluçamos
um canto fúnebre de
desolação na Cruz
e o ódio é o lastro da
rocha
que está sobre os nossos pescoços
e sob os pés.
Tecemos
mantos de seda
e cobrimos a nossa nudez
com tapeçarias.
Ao rastejarmos
no chão obscuro deste planeta
voamos além dos
pássaros e
através das nuvens
e afastamos os nossos caminhos do ódio
e desespero cego e
brindamos com horror
os nossos irmãos e alegria as nossas irmãs.
Crescemos apesar
do horror que alimentamos
por conta própria
amanhã.
Crescemos.
INSONE
Há certas noites em que
o sono se faz tímido,
indiferente e desdenhoso.
E todas as artimanhas
que utilizo para o colocar
ao meu serviço são inúteis
como o orgulho ferido,
e tanto mais dolorosas.
PASSANDO O TEMPO
A tua pele como o amanhecer
A minha como almíscar
Uma pinta o começo
de um certo fim.
A outra, o fim de um
certo começo.
RECUPERAÇÃO
Um Último amor,
propriamente dito,
deveria cortar as asas
proibindo novos voos.
Mas eu, agora,
livre dessa confusão,
levantada do chão,
acelero rumo à luz.
Maya Angelou in Poems, Poemhunter, The World's Poetry Archive, 2012.
Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa.