Hilda Doolittle


HERMES DOS CAMINHOS


A areia dura quebra,

e os seus grãos
são claros como o vinho.



Longe dessas léguas,

o vento,
brincando na imensa praia,
faz pequenos montes,
e as grandes ondas
quebram-se sobre eles.



Mais do que as muitas formas espumosas

do mar,
conheço-o
dos caminhos triplos,
Hermes,
aquele que espera.



Dúbio,

enfrentando três caminhos,
acolhe os viajantes,
aquele a quem o pomar do mar,
abriga do poente,
do oriente
resiste ao vento do mar;
frente às grandes dunas.



O vento corre

sobre as dunas,
e a relva áspera e com crosta de sal
responde.
Ei,
chicoteia em volta dos meus tornozelos!




II


Pequeno é

este riacho branco,
fluindo abaixo do solo
da colina sombreada de álamos,
mas a água é doce.



As maçãs nas pequenas árvores

são difíceis de encontrar,
muito pequenas,
amadureceram muito tarde
por um sol desesperado
lutando através da névoa do mar.



Os galhos das árvores

são torcidos
por muitas erosões;
torcidos são
os galhos de pequenas folhas.



Mas a sua sombra

não é sombra de mastro
nem de velas rasgadas.



Hermes, Hermes,

o grande mar espumava,
sobre mim rangia os dentes;
e de dor gritaste,
onde as ervas marinhas encontram
a relva da costa.



NOITE


A noite rasgou

uma a uma
as pétalas, atou-as
de novo ao caule
em frágeis linhas;



sob um ritmo firme,

até as cascas quebrar,
até cada folha dobrar
separada do caule;



sob um ritmo grave,

até que todas folhas
por detrás se dobrem
até caírem por terra,
todas em pedaços.



Ó noite,

tomas as pétalas
das rosas em tua mão,
mas deixa a haste
da rosa
no ramo perecer.



NASCER DA LUA


Vais brilhar sobre o mar?
Vai lançar a tua flecha
sobre a costa?
que nota vamos lançar?
temos uma canção,
na margem partilhamos as nossas flechas;
a corda solta canta a nossa nota:

Ó voo,
trá-la rapidamente para a nossa música.
Ela é óptima,
medimo-la pelos pinheiros.



PRECE


Branca, Ó branca face -
os dias desencantados
secam tanto a escura rosa
como  as baías de fogo:
não há dádiva em nossas mãos,
não há força para louvar,
apenas derrota e silêncio;
embora ergamos as mãos, desencantadas,
de pequena força, e não ergamos
o ramo de louro
ou a luz da tocha,
mas as vestes dobradas
em fechaduras rasgadas,
ainda te ouvimos, misericordiosa, e tocamos
a fronte, turva, ausente de orgulho e pensamento,
Senhora - junto a nós, vem!

Devolve o encanto à nossa vontade,
o pensamento; devolve a ferramenta,
o cinzel; uma vez que não forjamos
coisas indignas,
sandália e fecho de aço;
prata e aço, o casaco
com padrão de folha branca
no braço e na garganta:
prata e metal, martelados no cimo
do escudo e aro do capacete;
prata branca com o mais escuro malhado,
cinto, bastão e haste de lança mágica
com a faísca dourada na ponta e no punho.




Hilda Doolittle in H. D. Collected Poems 1912-1944
Louis L. Martz, New Directions Paperbook 661, 1986.

Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa.  

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