Robert Frost
A ESTRADA NÃO PERCORRIDA
Duas estradas
divergiam num bosque amarelo,
E lamento, não poder viajar por
ambas
E sendo um viajante, parei por muito tempo
E olhei
para uma delas o mais longe que pude
Até onde se debruçava
sobre o matagal;
Então segui pela outra, igualmente
bela,
Tendo esta talvez melhor pretensão,
Era um relvado e
precisava de ser usado;
Devo acrescentar que em qualquer
viagem
As teria trilhado da mesma maneira,
E ambas
naquela manhã repousavam
Em folhas que nenhum passo havia
sujado.
Oh, guardei a primeira para outro dia!
Sabendo como
o caminho guia o caminho,
Duvidei se algum dia aí
regressaria.
Estarei a contar isso com um suspiro
Algures
no tempo em algum lugar:
Duas estradas divergiam num bosque, e
eu -
Tomei a que era menos percorrida,
E isso tem feito
toda a diferença.
ALÉM DAS PALAVRAS
Essa fileira de
pingentes de gelo na goteira
Parece o meu arsenal de ódio;
E
tu, tu... tu, tu falas...
Tu esperas!
AZUL FRAGMENTÁRIO
Por que dar relevo
ao azul fragmentário
Aqui e ali um pássaro, ou borboleta,
Ou
flor, ou pedra, ou olho aberto,
Quando o céu se desdobra num
tom sólido?
Se a terra é terra, talvez, não o céu
(ainda) -
Apesar de certos sábios fundirem céu e terra;
E
o azul tanto acima de nós tão alto cresce,
Isso apenas aguça
o nosso desejo de azul.
CARPE DIEM
A Idade viu duas
crianças tranquilas
Passarem amorosas ao crepúsculo.
Não
sabia se iam para casa,
Ou se para fora da vila,
Ou se (os
sinos tocavam) até à igreja.
Esperou (que lhes eram
estranhas)
Até que estivessem fora de alcance
Para lhes
desejar que fossem felizes.
“Sejam felizes, felizes,
felizes,
E agarrem o dia com prazer”.
O tema antigo é o
da Idade.
Foi a Idade imposta aos poemas
O seu fardo de
rosas colhidas
Para alertar contra o perigo
Que amantes
surpreendidos
Ao serem embriagados
De felicidade possam
sentir.
E não sabem ainda o que têm.
Mas a vida agarrou o
presente?
Vive-se menos no presente
Do que no futuro
sempre,
E em ambos juntos menos
Do que no passado. O
presente
É excessivo para os sentidos,
Demais povoado,
demais confuso -
Para imaginar o presente.
POR MINHA PRÓPRIA CONTA
Um dos meus desejos é que essas árvores escuras
Tão antigas e
firmes que mal mostram a brisa,
Não fossem, como eram, a
máscara da melancolia
Mas que crescessem mesmo à beira do
abismo.
Não deveria ser mais detido, mas em algum dia
Na
sua vastidão, deveria furtivamente escapar
Sem medo de me
encontrar em campo aberto,
Ou na estrada onde a lenta roda verte
a areia.
Não vejo por que deveria alguma vez regressar
E
os que me seguiriam para me alcançar,
Seria aqui que a
minha falta deveriam sentir
E ansiar por saber se ainda o
meu amor teriam.
Não me encontrariam diverso do que
conheceram -
Apenas mais certo de tudo o que verdadeiro seria.
Robert Frost in
Complete Poems of Robert Frost, Holt, Rinehart and
Winston, 1964.
Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa (adaptação a verso livre).