Allen Ginsberg
EXORCISMO DO PENTÁGONO
"Nenhuma tributação sem representação"
Quem representa o meu corpo no Pentágono? Quem gasta
os bilhões do meu espírito para o fabrico de armas? Quem
taxa a maioria para exultar relutante com o
Rugido da Bomba? "Lavagem cerebral!" Mente-Medo! Linguagem do Governador!
"Complexo Militar-Industrial!" Linguagem do Presidente!
Vozes corporativas tagarelam sobre a construção de redes elétricas na
dor do corpo, ataxia química, escravidão física
à tirania militar diafanóide Chinesa de olhos
Cósmicos
da histeria do filme - Pagar os meus impostos? Nenhum Westmoreland quer
ser o Diabo, outros morrem em nome do Poder do seu General
a sustentar milhões de feridos na segurança da casa
a sintonizar imagens no universo separado da TV onde
virilidades camponesas queimam na floresta preta & branca
aldeias - representadas menos do que eu pela influência da Mágica
Inteligência dos "cientistas da matéria"
Rockefeller
banco telefone guerra investimento Agência de usura
executivos voando da McDonnell Douglas até à General Dynamics
sobre cidades sem árvores com ruído de metal envoltas em poluição atmosférica
patrulhadas pelo rádio-medo com gás lacrimogéneo, empresário!
Vai gastar os teus famosos bilhões em favor deste sofrimento!
O Pentágono acorda do sono do planeta! Apocatástase!
Espírito Dança Espírito Dança Espírito Espírito Dança!
Transforma o esqueleto do Pentágono num templo-virgem
Ó Fantasma
Guevara! Om Raksa Raksa Hu? Hu? Hu? Espantosa Svaha!
A Raiva e Controlo o teu auto-temido Caos, asfixia
o corpo-morte em Capitólios desmoronados com sentinelas de radar de pedra!
Para trás! Para trás! Para trás! A Mente Central da Máquina do Pentágono inverte a
consciência! Alucinação manifesta! Um milhão de Américas
olham para fora do Pentáculo nu do homem-espírito! Magnânima
reacção ao sinal de Pequim, isola os seres do Espaço!
UNIVERSOS IMAGINÁRIOS
Com ordens de disparar sobre o espião, descarreguei a minha pistola na sua boca.
Ele caiu com o rosto para baixo na posição em que a vida deixou o corpo ajoelhado com os olhos vendados.
Não, eu nunca fiz isso. Imaginado na neve do aeroporto, o avião de Albany descarregando passageiros.
Sim, o rapaz com cara de mexicano, 19 anos, fardado de Marine, senta-se a meu lado.
Descendo Salt Lake, acompanhava o corpo do irmão do Vietnam.
"O Chinoca estava ajoelhado à minha frente, chorando & implorando. Havia dois;
tinha um cartão que atirávamos à sorte sobre eles."
O cartão garantia imunidade aos V.C. que se rendiam.
"À conta do meu melhor amigo & do meu irmão, matei os dois Chinocas."
Isso foi verdade, sim.
ODE AO FRACASSO
Muitos profetas falharam, as suas vozes silenciosas
gritos de fantasmas nos porões ninguém ouviu risos empoeirados nos sótãos de família
nem os olhou nos bancos do parque chorando de alívio sob o céu vazio
Walt Whitman deu vida aos perdedores locais - coragem a Gordas Mulheres no Espectáculo de Horrores! nervosos
prisioneiros cujos lábios abigodados escorriam suor para as linhas da comida -
Mayakovsky gritou, Então morra! o meu verso, morra como a fila dos trabalhadores & os fuzilados em
Petersburgo!
Próspero queimou os seus livros de poder & mergulhou a sua varinha mágica no fundo dos mares de dragão
Alexandre, o Grande, não conseguiu encontrar mais mundos para conquistar!
O fracasso, eu canto, seu nome aterrorizante, aceita-me teu velho Profeta de 54 anos
em Fiasco Eterno! Junto-me ao teu Panteão de bardos mortais, & apresso esta ode com alta
pressão arterial
correndo para o topo do meu crânio como se não durasse mais que um minuto, a Gália Moribunda!
para
Ti, Senhor do cego Monet, surdo Beethoven, Vénus de Milo sem braços, Vitória Alada sem cabeça!
Falhei em dormir com todos os rapazes barbudos
de faces rosadas que masturbei
As minhas tiradas não destruíram nenhuma União Intelectual do KGB & CIA em gola alta & cuecas,
os seus fatos completos de lã & tweeds
Nunca dissolvi plutónio ou desmantelei a bomba nuclear antes que o meu crânio perdesse cabelo
Ainda não detive os Exércitos de toda a Humanidade
em sua marcha para a III Guerra Mundial
Nunca cheguei ao Céu, Nirvana, X,
Coisa cujos nomes não lembro, nunca deixei a Terra,
Nunca aprendi a morrer.
LAMENTO DO ESQUELETO AO TEMPO
Leva o meu amor, não é genuíno,
Assim, não deixes que tente nenhum novo corpo;
Leva a minha senhora, suspirará
Pela minha cama, onde me deito;
Leva-os, disse o esqueleto,
Mas deixa os meus ossos em paz.
Leva a minha roupa, agora esfriou,
Para dar a algum pobre poeta velho;
Leva a pele que cobre esta verdade
Se a idade minha juventude trajasse;
Leva-os, disse o esqueleto,
Mas deixa os meus ossos em paz.
Leva os pensamentos que amam o vento
Que sopram o meu corpo fora da mente;
Leva este coração para que vá com isso
E que o transmita de rato em rato;
Leva-os, disse o esqueleto,
Mas deixa os meus ossos em paz.
Leva a arte que lamento
No tom louco de um poema;
Tritura-me, embora possa gemer,
Até o mais duro pedaço de pedra e pau;
Leva-os, disse o esqueleto,
Mas deixa os meus ossos em paz.
"APRENDI UM MUNDO COM CADA UM"
Aprendi um mundo com cada um
a quem amei;
tantos mundos sem
um único Zodíaco.
Allen Ginsberg in Collected Poems 1947-1997
© 2006 Allen Ginsberg Trust
HarperCollins Publishers e-books
Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa