Langston Hughes


O NEGRO FALA DOS RIOS


Conheço os rios:

Conheço os rios antigos como o mundo e mais antigos que

   o fluxo de sangue humano nas veias humanas.


A minha alma cresceu profundamente como os rios.


Banhei-me no Eufrates quando o amanhecer era jovem.

Construí a minha cabana junto ao Congo e isso embalou-me para dormir.

Olhei para o Nilo e ergui as pirâmides acima de si.

Ouvi o canto do Mississipi quando Abe Lincoln

   desceu até Nova Orleães e vi o seu peito

   lamacento ficar todo dourado ao pôr do sol.


Conheço os rios:

Rios antigos e escuros.


A minha alma cresceu profundamente como os rios.



NEGRO


Eu sou um negro:

   Negro como a noite é negra,

   Negro como as profundezas da minha África.


Eu fui um escravo:

   César disse-me para manter as soleiras da sua porta limpas.

   Escovei as botas de Washington.


Já fui um trabalhador:

   Sob a minha mão surgiram as pirâmides.

   Fiz argamassa para o Edifício Woolworth.


Já fui um cantor:

   Todo o caminho de África até à Geórgia

   Carreguei as minhas canções de tristeza.


Eu toquei ragtime.


Eu fui uma vítima:

   Os belgas cortaram-me as mãos no Congo.

   Lincham-me ainda no Mississipi.


Eu sou negro:

   Negro como a noite é negra,

   Negro como as profundezas da minha África.



BANDA DE JAZZ NUM CAFÉ PARISIENSE


Toque essa música,

Banda de jazz!

Toque para os senhores e senhoras,

Para os duques e condes,

Para as prostitutas e os gigolôs,

Para os milionários americanos,

E os professores da escola

Que saem para uma farra.

Toque,

Banda de jazz!

Conhece aquela música

Que ri e chora ao mesmo tempo.

Tu sabes.


   Posso?

   Mais oui.

   Mein Gott!

Parece una rumba.

Toca, banda de jazz!

Tens sete idiomas para falar

E depois alguns,

Mesmo se vieres da Geórgia.

   Posso ir para casa contigo, querido?

Claro.



JOVEM MARINHEIRO


Ele carrega

A sua própria força

E a sua própria gargalhada,

O seu próprio hoje

E de agora em diante -

Este jovem marinheiro forte

Dos vastos mares.


Para que serve o dinheiro?

Para gastar, diz.

E vinho?

Para beber.

E mulheres?

Para mar.

E hoje?

Para a alegria.

E o mar verde

Para a força,

E a terra castanha

Para rir.


E de agora em diante.



PROFESSOR


Os ideais são como as estrelas,

   Sempre acima do nosso alcance.

Humildemente tentei aprender,

   Mais humildemente ensinei.


Em todas as virtudes honestas

   Procurei manter-me firme.

Queria ter sido um bom homem

   Embora tenha magoado a alma.


Mas jazo agora sob a argila fresca

   Esquecendo cada um dos sonhos;

E neste estreito leito de terra

   Nenhuma luz brilha.


Neste estreito leito de terra

   A poeira estelar nunca se espalha,

E tremo para que a escuridão 

   não me ensine que nada importa.




Langston Hughes in The Collected Poems of Langston Hughes

Arnold Rampersard Editor | David Roessel Associated Editor

Vintage Books, Random House, 1994.

Versão Portuguesa de Luísa Vinuesa.

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